Achados e Perdidos...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Linda

Eu conheci uma menina que me fez perder o sono, justamente quando eu queria dormir para sonhar com ela. Conheci uma menina daquelas, que nos fazem pensar, pensar, pensar e pensar. Menina moleca, menina gentil. Dentro dos seus olhos pude ver um oceano de mistérios, prontos para serem descobertos. Peguei minha lanterna, meu cantil, arrumei minhas coisas, e parti para a expedição. Toquei seus lábios com um beijo tão forte, que senti a terra tremer sob os pés. O mundo parou de girar, as estrelas brilharam ainda mais, e agora elas pareciam buracos no chão do paraíso. Percebi então, que havia chegado a hora de deixar o barco além do rio, prosseguir a pé e marcar com as gotas de meu corpo o lugar onde havia encontrado paz. Nesse dia, aposentei meu coração. Até então, minhas decepções eram carnais, espirituais, materiais, sentimentais. As amizades só haviam me trazido inimigos, e eu trazia uma angústia que ninguém via, e nunca verá. Tudo isso era resultado de um mundinho que eu criei, sob a inspiração das impressões que cultivei. Os amores eternos que tive estes, não duraram sequer uma vida. Percebi que havia depositado os sonhos, em meias erradas, que não tomaram nem o cuidado de acender a lareira. Eram amores perdidos na encruzilhada do ver com o sonhar. Não pude aquecer meu coração, pois a água do gelo derretido apagara o fogo. O poço ficou vazio, e estava tampado, não pude ver seu fim. Essa solidão acalentadora das noites vazias entorpeceu minha alma, silenciou o carteiro de novos horizontes, o confundiu meu espírito.

Tudo havia mudado, com um simples beijo. Beijos roubados de uma boca refém, que implorava para que não pagassem o resgate. Explorei cada centímetro perceptível ou não. Descobri seu rosto, sua força, seu brilho, seu gosto. Fiz de seu corpo tela pronta, e minhas mãos foram os pincéis. Senti esse mesmo corpo tremer, quando com minha boca explorei seu pescoço. O calor que saía de meus lábios era uma pura representação de como eu estava me sentindo por dentro. De você fiz poesia, fiz obra prima, fiz alegria. Fizemos do quarto universo, nos perdemos nos lençóis. Fizemos cabana numa cama desarrumada. Parecia mágica, parecia música. Se o céu pudesse encontrar a terra, seria testemunha de algo que nunca se viu. Como estávamos sonhando naquele dia. Nada me fazia crer que era possível aquilo tudo acabar. E até hoje, recorro às lembranças, para poder vivenciá-las outra vez. Já perdi as contas de quantas vezes repeti isso tudo para mim.

Eu me apaixonei por uma menina que me fez perder o sono. As noites mal dormidas, só eram recompensadas pelas histórias que eu criava madrugada adentro. Hoje vivo na expectativa de encontrá-la outra vez, e reverenciar seu toque. Essa sensação de reencontro me alucina, me embriaga, me afirma. Eu sendo Mariana, a menina que me enlouqueceu, Carolina.

"Júlio Raizer / Chê"

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